O diretor do FBI, a principal agência federal de investigação dos EUA, disse na quarta-feira, diante de uma comissão na Câmara dos Deputados do país, que ainda não se tem certeza se o ex-presidente Donald Trump foi atingido por uma bala ou por estilhaços no atentado sofrido no dia 13 de julho. O depoimento ocorreu no mesmo dia em que a Câmara, em um raro momento de união, aprovou a criação de uma força-tarefa para investigar o ataque.
Desde o dia 13 de julho, quando um atirador fez disparos na direção do ex-presidente durante um comício na região rural da Pensilvânia, Trump e aliados têm afirmado que o ferimento em sua orelha foi causado por uma bala que passou raspando.
No sábado, o ex-médico e ex-deputado Ronny Jackson disse, em comunicado, que o rastro da bala causou um ferimento de 2 cm na orelha do republicano, causando um sangramento local, mas sem a necessidade de pontos. Segundo ele, o projétil passou a centímetros de sua cabeça, e poderia tê-lo matado na hora, um argumento que havia sido explorado à exaustão durante a Convenção Nacional Republicana, que confirmou Trump como candidato à Presidência, dias antes.
Wray pareceu questionar essa versão.
— Com relação ao ex-presidente Trump, há dúvidas sobre se foi ou não uma bala ou estilhaço que atingiu sua orelha — disse Wray à Comissão do Judiciário da Câmara, sem dar maiores detalhes.
A carta de Jackson foi, até agora, a principal declaração sobre a saúde do ex-presidente. Os médicos envolvidos no tratamento inicial não deram declarações, e ele não divulgou exames que teriam sido realizados após o atentado. Segundo o ex-deputado, ele foi submetido a uma tomografia computadorizada, que não teria revelado danos mais amplos. Segundo especialistas, diante do poder de destruição da arma usada no ataque, Trump poderia sofrer perda auditiva e até problemas neurológicos, mesmo sem ter sido atingido diretamente.
Os investigadores afirmam que o atirador, Thomas Crooks, usou um fuzil de assalto similar a um AR-15, e fez oito disparos em um intervalo de seis segundos — uma pessoa, o bombeiro Corey Comperatore, morreu, e duas ficaram feridas com gravidade. Crooks foi morto por agentes do Serviço Secreto, mas a operação de segurança foi chamada pela diretora da agência, Kimberly Cheatle, de “mais significativa falha operacional em décadas”. Ela pediu demissão na terça-feira.
No depoimento à Câmara, Wray disse que Crooks esteve no lugar do ataque, na cidade de Butler, dias antes dos disparos, e chegou a usar um drone duas horas antes do atentado, que foi apreendido no carro do atirador. Na véspera, ele foi a um clube de tiro, e pouco antes de disparar contra Trump comprou 50 balas de fuzil. Wray confirmou que, além do drone, havia uma quantidade considerável de explosivos no carro de Crooks. A arma foi comprada do pai dele, em outubro de 2023.
O diretor do FBI, que durante a sessão chegou a ouvir pedidos para que renunciasse imediatamente, revelou que o atirador fez buscas no Google sobre Lee Harvey Oswald, o homem que assassinou o presidente John Kennedy em 1963, em Dallas. Segundo Wray, Crooks fez buscas sobre pessoas públicas, incluindo Trump e o atual presidente Joe Biden, e parece ter se decidido pelo republicano em 6 de julho: nesse dia, ele pesquisou qual era a distância em que Oswald atirou contra Kennedy, e se registrou para participar do comício em Butler.
Mas uma questão permanece em aberto, mesmo após 400 entrevistas com testemunhas, agentes de segurança e com os pais do atirador.
— Acho que podemos dizer que ainda não temos uma imagem clara sobre suas motivações — declarou.
Mesmo pressionado, ele frustrou alguns parlamentares ao afirmar, em diversas ocasiões, que não poderia tornar públicos alguns detalhes, para não atrapalhar o rumo das investigações. Wray ainda se recusou a comentar sobre as falhas na segurança e sobre a atuação do Serviço Secreto, tampouco sobre como Crooks conseguiu efetuar oito tiros.
— Isso é algo que ainda estamos investigando — afirmou.
Fonte: o globo
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